sábado, 12 de julho de 2014

As arenas e a elitização do futebol brasileiro

Com a construção das novas Arenas Esportivas estamos assistindo a um processo de mudança de paradigma dos estádios de futebol aqui no Brasil. Saímos das praças de desportos e das praças públicas para as Arenas Multiuso que estão definidamente acopladas ao projeto de elitização dos estádios e do futebol brasileiro e que, naturalmente, vem ancorada à elevação do preço dos ingressos, o que, lamentavelmente, alterará o perfil social do torcedor tupiniquim nos estádios.
O caso da Arena Corinthians é bem típico. O clube traz em si o DNA da simbologia popular, porém, tem um estádio erguido num bairro periférico distante 23 km do centro da cidade de São Paulo, cuja massa de torcedores é extremamente ativa, o que invariavelmente se confronta com esse projeto atual de elitização dos estádios contrapondo assim, com a demanda popular dos torcedores. Ou seja, o clube desportivo tem um novo estádio onde a sua torcida de massa, característica do clube, não poderá assistir aos jogos do seu timão. Estranho não?
Embora pouco comentada, essa é uma das grandes preocupações postas em função desses novos estádios, até porque a experiência de outros países já demonstrou isso muito claramente, e que de certa forma, isto já vem ocorrendo com a torcida do Flamengo no Maracanã.
Estranho também a colocação da palavra arena que poderemos considerá-la a uma propriedade lingüística pelo simples fato de que arena é um lugar que tem areia e não um lugar, propriamente, que tenha gramado.
Na realidade há uma grande preocupação nos meios esportivos onde os torcedores dos grandes clubes brasileiros possam se transformar em torcidas de mauricinhos que vão cantar “eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor” que é uma canção de ninar, não propriamente uma canção para um estádio de futebol. Assim, muitos conhecedores do futebol dizem que quando a torcida brasileira começa a cantar isto nos estádios eles começam a ficar preocupados com que a seleção possa dormir em campo, ao contrário de “o campeão voltou” que é um pouco melhor, claro!
Em relação à elitização do futebol. Será que não teremos mais um bando de loucos corinthianos nos estádios? Não teremos mais a torcida do flamengo cantando “ó meu mengão eu gosto de você”? Será que não teremos mais a torcida do Galo cantando “a galoucura canta, a massa se levanta e só dá Galo”? E a torcida celeste com a Máfia Azul cantando “explode coração, na maior felicidade, é lindo o meu Cruzeiro, contagiando e sacudindo esta cidade”?
Bem, na lógica do mercado, podemos dizer que na Inglaterra isto deu muito certo porque os estádios estão repletos de torcedores e de certa forma contribuiu para minimizar a questão da violência da torcida inglesa nos estádios.
No Brasil, há algumas contradições como, por exemplo, a gente gosta de dizer que somos o país do futebol, mas é uma mentira que a gente conta pra nós mesmos porque a gente gosta e joga bem o futebol. Ou seja, nós somos bons nesse negócio de jogar futebol.
Mas, o país do futebol certamente nós não somos! A nossa média de público de 15 mil pagantes por jogo é menor que a Liga Americana de Futebol. Perdemos para a segunda divisão da Liga Inglesa e perdemos também para a segunda divisão da Liga Alemã de futebol. A nossa média de público nos estádios fica na 17ª posição em pesquisa mundial sobre comparecimento de torcedores aos estádios.
Interessante que qualquer pesquisa de opinião que se faça no Brasil sobre interesse por futebol, em primeiro lugar vem um contingente de 28% de pessoas que não se interessam por futebol, em segundo lugar vem o Flamengo e em terceiro vem o Corinthians. Na Argentina, ao contrário, a mesma pesquisa conta que em primeiro lugar vem o time “Boca Junior”, em segundo o “River Plate” e em terceiro, as pessoas que não se interessam por futebol.
Na realidade nós não podemos pensar em elitização dos nossos estádios, antes, de que haja plena capacidade de público neles. Assim, com a possível falta de público nos estádios brasileiros teremos que abrir as portas aos “geraldinos e arquibaldos” do dia a dia, abrindo assim, os estádios aos pobres e aos pretos, porque desistir de ver preto nos estádios não tem graça nenhuma, assim como os elevados preços dos ingressos e os desnecessários horários dos jogos, atendendo assim a grande massa de torcedores apaixonados por futebol.

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