quinta-feira, 3 de julho de 2014

O esporte e a política

Uma dupla inglesa de escritores sendo um deles colunista de esportes do jornal Financial Times, e outro um economista especializado em esporte, escreveu um livro com o título “Soccereconomics” que é muito curioso. Os autores partem de uma tese que surpreende nestes tempos de copa. Eles perguntam: é dever de um estadista propor que seu povo fique feliz por um mês que seja? E eles surpreendentemente comentam que sim. É dever de um estadista fazer seu povo feliz por um mês que seja. E a copa do mundo é uma oportunidade para você fazer uma festa e deixar seu povo feliz e orgulhoso por um mês.
Na lógica dos escritores para que isto ocorra, a primeira coisa que o estadista tem o dever de fazer é perguntar para o seu povo se ele quer fazer esta festa e comentar com ele que a festa custará, digamos, R$ 30 bilhões. Nós temos esse dinheiro, porém, teremos que deixar de fazer alguns investimentos, mas, será uma festa! Vocês querem? Queremos! Vamos fazê-la, dividindo responsabilidades com a população. Não, não queremos fazê-la! Então não se faz a festa, como ocorreu em Saint Moritz e Davos (Suiça), em Munique (Alemanha) e em Estocolmo (Suécia) que acaba de dizer, em referendo popular, que não querem receber as Olimpíadas de Inverno do COI de 2022, dentro de um processo civilizado e democrático de consulta ao povo.
O que mais os escritores dizem nesse livro? Dizem que uma copa do mundo assim como nenhum outro mega evento dá lucro aos países que o recebem. Mas, uma copa do mundo é uma oportunidade magnífica que um país tem de fazer um anúncio, um comercial de si mesmo durante um mês. Correndo apenas um risco, o de fazer um mau anúncio. Assim, até o início da copa fizemos apenas um mau anúncio de nós mesmos. Vejam o que a imprensa internacional publicou sobre o Brasil antes de a bola (a Brazuca) rolar, muito embora algumas dessas publicações sejam levianas ou preconceituosas. Mas, a maioria dos comentários estava correta e, como sabemos, não foi nada legal.
Na realidade, o Brasil teve uma crise de megalomania ao fazer uma copa em 12 cidades ao invés de fazê-la em 8 cidades como era a exigência da Fifa.
Os Estados Unidos fizeram uma copa em 1994 construindo apenas um estádio novo, adaptando os estádios de beisebol e de futebol americano para o evento. A França fez uma copa em 1998 e construiu apenas o estádio De France nos arredores de Paris. Em Marseille, os dois jogos da seleção brasileira em 1998 simplesmente ocorreram no mesmo estádio em que o escrete canarinho havia jogado o Mundial de 1938, portanto, 60 anos atrás.
Por que o Brasil, a rigor, precisou fazer 12 novos estádios? Não é somente um absurdo fazer um estádio em Cuiabá que sequer futebol profissional há. É um absurdo fazer um estádio em Manaus onde também não tem futebol profissional. É um absurdo fazer um estádio para 70.000 pessoas em Brasília. É um absurdo fazer um estádio em São Paulo quando se tem o Morumbi em plenas condições de uso. Alguém até poderia dizer: mas o Morumbi não é o estádio ideal. Correto. Não é o estádio ideal. Mas o Brasil tem que fazer idealmente, hospitais, escolas, transportes, educação, infra-estrutura e muito mais para o seu povo! Mas fazer um estádio apenas para um evento de um mês para cinco ou seis jogos seria o natural para um país que ainda precisa se construir. 

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