terça-feira, 3 de março de 2015

A bolha do carbono

O mundo pode estar caminhando para uma grande crise econômica na medida em que os mercados de ações inflam uma bolha de investimento em combustíveis fósseis da ordem de trilhões de dólares, de acordo com pesquisas mundiais.
Segundo “Nicholas Stern”, professor da London School of Economics, o risco é grande de fato, pois a última crise financeira mostrou o que acontece quando os riscos se acumulam e se tornam despercebidos.
Assim, a chamada "bolha do carbono" é o resultado de um excesso de valorização das reservas de petróleo, carvão e gás nas mãos de empresas de combustíveis fósseis. De acordo com um relatório publicado recentemente, pelo menos dois terços dessas reservas terá que permanecer sob o solo se o mundo quiser alcançar as metas existentes, acordadas internacionalmente, para evitar o limiar de mudanças climáticas catastróficas no planeta. Se os acordos se mantiverem, essas reservas, de fato, não poderão ser queimadas e serão inúteis - levando a perdas financeiras maciças. Entretanto, os mercados de ações estão apostando na inação dos países em relação às mudanças climáticas.
O duro relatório foi realizado por “Nicholas Stern e o centro Carbon Tracker” e suas advertências são apoiadas por organizações como HSBC, Citi Bank, Standard and Poors, Agência Internacional de Energia e Banco da Inglaterra, os quais reconheceram, em que à medida que as nações combatam o aquecimento global pode haver um colapso do valor dos ativos de petróleo, gás e carvão trazendo um potencial de risco sistêmico para as economias mundiais, com o sistema financeiro de Londres, particularmente, sob risco cruzado devido às suas enormes posições em carvão.
Longe de reduzir os esforços para desenvolver combustíveis fósseis, segundo “Stern”, as 200 maiores empresas gastaram 674 bilhões de dólares em 2012 para encontrar e explorar ainda mais novos recursos fósseis, um montante equivalente a 1% do PIB global, que pode acabar como ativos “encalhados" ou sem valor.
O primeiro relatório de “Stern”, de 2006, sobre o impacto econômico das mudanças climáticas - encomendado pelo então ministro das finanças britânico, Gordon Brown - concluiu que o gasto de 1% do PIB em combustíveis fósseis pagaria os processos de transição para uma economia limpa e sustentável.
Os governos do mundo concordaram em limitar o aumento da temperatura global a 2 graus Celsius, além do qual os impactos climáticos podem se tornar graves e imprevisíveis. Mas “Stern” comenta que os investidores claramente não acreditam que ações para frear as mudanças climáticas serão tomadas. "Eles não podem acreditar nisso e ao mesmo tempo acreditar que os mercados estão, agora, valorizados demais".
Outra fonte importante da bolha de carbono é a visão centrada no curto prazo dos mercados financeiros que somente acreditam na regulação ambiental quando puderem vê-la em prática.
Analogamente analistas dizem que você deve ficar no trem até pouco antes dele cair do penhasco. Por outro lado, cada pessoa pensa que é inteligente o suficiente para escapar a tempo, mas nem todos poderão passar pela porta ao mesmo tempo. Essa é a causa de bolhas e colapsos.
Assim, a ameaça de uma perda de valor contábil do setor de carbono tem características inconfundíveis e imensuráveis.
O relatório calcula ainda, que as reservas mundiais de combustíveis fósseis equivalem a 2,86 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, mas que apenas 31% poderiam ser queimadas para manter uma chance de 80% do aumento da temperatura terrestre não exceder 2 graus Celsius. Para essa chance ficar em 50%, apenas 38% das reservas de combustível fóssil pode ser queimadas.
Com precaução as agências de risco já expressaram suas preocupações e a “Standard and Poor” concluiu que o risco poderia levar ao rebaixamento dos “ratings de crédito” de empresas de petróleo de todo o mundo em poucos anos.

Fonte: The Guardian.

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