sexta-feira, 19 de junho de 2015

A Crise do Aço

A atual situação da siderurgia brasileira é sistêmica e, conjunturalmente, é preciso entender que o Brasil, já há algum tempo, deixou de ser um centro de produção de baixo custo e o setor se depara hoje com custos em elevação e demanda encolhendo.
O nível de utilização da capacidade instalada brasileira é de 70% com perspectivas de retração e entre os investimentos firmes compilados pelo BNDES, consta apenas gastos com manutenção do parque industrial existente e com as obras da Companhia Siderúrgica de Pecém (CSP), no Ceará e com a parceria entre a coreana Posco, a chinesa Donkuk e a Vale, único projeto novo em curso no país. Não há projetos novos no Brasil enquanto no mundo apenas existem novos projetos nos Estados Unidos e na China.
O cenário do aço tem sido desafiador para o setor siderúrgico global tanto quanto por aqui. O setor vem com dificuldades e o mercado encontra-se caracterizado por sobre oferta (excesso de oferta do produto) e forçadamente trabalha com margens reduzidas.
Por aqui a capacidade produtiva atual é praticamente o dobro do consumo aparente interno, o que não estimula novos investimentos para aumento de capacidade produtiva direcionados para o mercado doméstico.
Outros pontos importantes guardam relação com a pressão de preços com alta nos custos de mão de obra, minério de ferro e carvão, acrescidos do aumento da concorrência externa e dos reflexos da conjuntura internacional desfavorável para o aço, sem perspectiva de mudança de quadro no curto prazo.
A perda de competitividade na siderurgia é patente o que se reflete na queda de participação do aço na indústria brasileira com queda de mais de 20% enquanto as importações indiretas do aço estrangeiro cresceram mais de 60%.
As perspectivas de aumento do consumo de aço ficaram nas obras dos estádios para a última Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2016, que não necessariamente, vem acompanhada de aumento de consumo de aço. Conte-se ainda com a atual e desnecessária crise brasileira que faz encolher o setor automotivo, consumidor natural do segmento de aço.
As dificuldades enfrentadas pela siderurgia brasileira desde a crise de 2008 levaram muitas companhias a adotar uma estratégia de verticalização e de diversificação de suas atividades.
Assim, o grupo com menor exposição aos problemas crônicos do segmento de aço é o grupo Gerdau por ser o mais internacionalizado deles.
Já a CSN é o grupo mais verticalizado com forte presença em mineração, com atuação em logística e cimento; e com auto-suficiência em minério e energia elétrica que trazem custos mais baixos de produção para a companhia. A CSN tem como principal receita a venda de aços planos, mas é a segunda maior exportadora em minério de ferro que tem papel importante na recuperação das margens da empresa.
A Usiminas um dos maiores players do mercado e a maior produtora de aços planos do Brasil, porém, vem perdendo relevância. O desempenho das gigantes do aço, Gerdau e CSN vem mostrando que as estratégias de diversificação, internacionalização e verticalização tem sido essenciais para aliviar as pressões sobre as margens.
A Usiminas vem apresentando estruturas de custos de produção muito penalizadas pelo baixo volume de produção atual. E, por sua vez, ainda não atingiu a auto-suficiência em minérios, um desafio para a empresa.
A empresa vem tentando escoar a sua produção no mercado internacional, porém, com preços de comercialização mais baixos.
Uma vez equacionado os problemas de pressão de custos na siderurgia brasileira deparamo-nos com outras fraquezas. Ou seja, aquelas fraquezas que ficam do lado de fora das fábricas e que precisam ser enfrentadas, como a atual Política Tributária do país, inibidora de agregação de valor ao setor; os gargalos pontuais na infra-estrutura e logística; a dependência de importação de tecnologias e de bens de capital e os projetos de engenharia desenvolvidos no exterior. 
Por fim cabe salientar que a produção anual de aço do Brasil equivale a apenas 15 dias de produção na China.

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