segunda-feira, 21 de maio de 2018

Pressão do Dólar



Os mercados globais e, principalmente, os emergentes vêm sofrendo com a aceleração do dólar. O movimento parece que veio para ficar diante das turbulências geopolíticas, e das saraivadas de Donald Trump no oriente médio.
Por aqui o comportamento é de proteção dos investidores e de empresas diante das turbulências internacionais. Neste sentido, tem acontecido uma corrida por hedge (proteção) por parte de empresas e investidores que têm compromissos em moeda estrangeira. Este fenômeno vem impulsionando as cotações do dólar à vista nas últimas semanas no Brasil.
O gatilho para este movimento do dólar foi à perspectiva de elevação dos juros nos Estados Unidos e as preocupações em torno do comércio internacional. Assim, com a expectativa de juros mais elevados nos EUA, aumentou a tendência de saída de dólares de países emergentes. Um dos exemplos mais claros disso é a Argentina, onde a fuga de divisas acabou por forçar um acordo de auxílio com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
No Brasil a coisa acontece diferentemente de outros emergentes. O mercado brasileiro é mais sofisticado que seus demais pares emergentes. Temos outros instrumentos. Daí, em um primeiro momento, em vez de saírem correndo do País, os investidores buscam proteção.
No final de março o dólar comercial chegou a R$ 3,30; em abril bateu em R$ 3,50 e hoje dia 21/05/2018 chegou à cotação de R$ 3,69, atingindo uma variação porcentual de 11,82% ante o real, nesse período.
Dados da B3 (a Bolsa de Valores de São Paulo) mostram que a compra de dólares a termo pelas empresas aumentou 9,7% de março para abril. Certamente, são empresas que em alguns meses terão de pagar algum compromisso no exterior e que, em função do avanço do dólar, decidiram travar agora as cotações.
Muitas empresas que não fizeram o hedge lá atrás estão buscando a proteção agora, afirmam especialistas. O medo é de que, com a pressão vinda de fora e as indefinições em torno da eleição presidencial no Brasil, a alta do dólar continue nos próximos meses.
A disparada do dólar aumentou em R$ 115 bilhões, o total que bancos e empresas terão de desembolsar para fazer frente às dívidas no exterior, ainda que os empréstimos na moeda estrangeira não tenham crescido, a variação cambial faz com que sejam necessários mais reais para pagar o mesmo compromisso. O quadro pode gerar ainda mais preocupação com a informação do Banco Central de que 46,9% das empresas com dívida em dólar não contam com proteção à variação do câmbio.
Dados do BC mostram que a dívida externa de bancos e empresas somava US$ 471,2 bilhões no fim de março. Esse valor inclui empréstimos bancários, títulos de dívida, crédito comercial e operações intercompanhias. Em dólar, o montante não oscila expressivamente há três anos. Convertida para reais, a dívida passou do equivalente a R$ 1,556 trilhão no fim de março para R$ 1,672 trilhão na última quinta (dia 17) - uma diferença de R$ 115 bilhões.
Esse cenário traz preocupação, especialmente, para empresas que eventualmente tomaram crédito em outros países, mas não estavam preparadas para o dólar mais caro.
Dados do Banco Central indicam que quase metade das companhias consultadas em 2014 pelo próprio BC não se protegia contra a oscilação do dólar com o chamado "hedge".
Outros pontos que afetam a cotação do dólar são as crescentes incertezas sobre as eleições no Brasil; o aperto do juro nos EUA que pode ser mais intenso que o esperado; além do surgimento de uma inesperada crise na Argentina que levou o país vizinho a bater no FMI.
A expectativa do mercado é de que a inflação dos Estados Unidos (EUA) suba devido ao aumento dos gastos do governo, da reforma tributária aprovada neste ano no país norte-americano e pelo forte aumento dos preços do petróleo. Com isso, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) deve elevar os juros de forma mais intensa. Na prática, como a taxa básica brasileira está no mais baixo nível da história, e o cenário interno é embaçado por incertezas com as reformas e com as eleições, isso faz com que investidores migrem seus recursos para os EUA.
No Brasil, a subida do dólar pode trazer efeitos positivos para os setores ligados à exportação, impulsionando a balança comercial, mas também prejudicar investimentos em bens de capital, especialmente, em máquinas e equipamentos.
O câmbio é um fator extremamente relevante para as empresas que participam do comércio internacional, seja como exportadoras ou importadoras. O dólar em alta favorece as exportadoras, pois suas receitas são em moeda estrangeira. Já as importadoras sofrem nesse cenário, pois seus custos são calculados em dólar.
Estima-se que 33% dos itens do IPCA (índice que mede a inflação brasileira) sofram influência da moeda americana. É por esse motivo que o dólar em alta preocupa o Banco Central.
Do lado do governo brasileiro, a melhor resposta é persistir no processo de consolidação fiscal, ou seja, de melhoria das contas públicas, que vêm registrando rombos bilionários, pois, avançar na consolidação fiscal é o nosso grande desafio. É preciso continuar trabalhando para aumentar a produtividade da nossa economia, para reduzir custos e torná-la mais eficiente.  


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